sábado, 11 de julho de 2009

musicaparabaixar.org.br

Início positivo para o MPB, para o futuro da música, com muitos desafios à frente.
Publicado por Everton Rodrigues


Após realizarmos o 1º fórum do movimento Música Para Baixar, faz-se necessária uma reflexão sobre os avanços, e também um dimensionamento dos desafios que se apresentam a partir do instante em que decidimos nos envolver com outras pessoas para debater e agir na melhoria da cadeia produtiva da música.

Antes de tudo, é preciso referir que mobilizar pessoas que vivem da música é uma tarefa um tanto complexa. Isso porque, historicamente, a indústria cultural, da qual a maioria dos músicos faz parte, desenvolveu uma concepção de que: “quem vive da música não é uma pessoa qualquer”.

A pessoa que vive da música não tem sequer um valor por sua hora de trabalho, como qualquer outra pessoa que trabalhe em qualquer outra área. Dessa forma, a grande maioria que entrou para o ramo da música sonha com fama, muito dinheiro, luxo e que encontrará todas as portas abertas por onde passe.

Claro que ficar rico com a música é possível. Mas é possível para poucos que estão alinhados com as margens de lucro da indústria cultural, organizada majoritariamente pelos monopólios dos veículos de comunicação, pelas gravadoras, editoras e sociedades arrecadadoras. Quem não estiver nesse esquema do jabá está fora, e sua obra não poderá circular. Claro que defendo que as pessoas possam viver muito bem da música, e isso é o mínimo.

Entretanto, toda essa forma com que a indústria cultural vem trabalhando está em profunda crise, reflexo também da crise mundial pela qual passamos. Ou seja, tudo que as pessoas produzem tem um único objetivo: transformar-se em mercadoria para ser vendida, e, em última instância, produzir lucro.

O MPB já nasce em um momento especial, em uma conjuntura interessante. Um ano em que irão acontecer boas “coisas” para a música e de preparação para muitas outras novidades.

O ano de 2009 nos chama à reflexão sobre a música. É o ano de aniversário de 40 anos de Woodstock (aconteceu de 15 a 18 de agosto de 1969), É o ano de aniversário de 10 anos do Fórum Internacional de Software Livre onde nasceu o movimento Música Para Baixar. É o ano da conquista da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (http://www.proconferencia.com.br/). É o ano onde nasce o movimento de articulação em defesa da 1ª Conferência Nacional da Música.

É o ano em que a mãe Jammie Thomas Rasset, de 32 anos e quatro filhos, foi condenada pelo tribunal americano a pagar US$ 1,9 milhão por baixar 24 músicas na Internet. É o ano em que o Parlamento Federal Brasileiro quer punir, com até três anos de prisão, quem baixar música. É o ano de preparação da 2ª Conferência Nacional de Cultura que acontecerá em março de 2010. É o ano de preparação aos 10 anos do Fórum Social Mundial. É o ano da maior crise mundial econômica e da indústria cultural.

Esse é o ano do nascimento do movimento Música Para Baixar (MPB). Sim! Queremos provocar e fazer um trocadilho com a antiga MPB cujo modelo beneficia apenas algumas pessoas, e nós queremos mudar isso.

Em seis meses de vida, o movimento MPB está crescendo muito porque se propõe como espaço não somente para especialistas da música, mas para quem cria, produz e usa todos os gêneros da música. Ou seja, é um movimento amplo e que, por essência, não discrimina nenhum agente da música, e defende conviver como diferentes idéias desde que pretenda realmente construir uma nova relação de trabalho que seja mais justa para todas as partes envolvidas.

Após o encontro em Porto Alegre, lançamos o manifesto do movimento Música Para Baixar, e, em 8 dias, alcançamos mais de 800 assinaturas. Dentro dessas adesões, temos o cantor e compositor Leoni (http://www.leoni.art.br/ e http://musicaliquida.blogspot.com) que é uns dos principais articuladores do movimento. Também outros artistas importantes como Zélia Duncan (www.zeliaduncan.com.br), Ritchie (www.ritchie.com.br), Roger Rocha Moreira da banda Ultraje a rigor (http://www.ultraje.com), Trupe o Teatro Mágico (http://www.oteatromagico.mus.br/novo/), Banda Bataclã FC (www.bataclafc.com.br), Banda Sol na Garganta do Futuro (http://www.solnagargantadofuturo.com.br/), Fernando Rosa (http://www.senhorf.com.br), Banda Coyote Guará (www.coyoteguara.com.br), Nei Lisboa (http://www.neilisboa.com.br/), Moysés Lopes das bandas Camerata Brasileira e Sombrero Luminoso (www.moyseslopes.mus.br), Juca Culatra da banda Juca Culatra e Power Trio (http://www.myspace.com/jucaculatrapowertrio) e Eduardo Ferreira da banda Osviralata e colaborador do OverMundo, Marcelo Branco coordenador da Associação Software Livre.org (www.softwarelivre.org), Ellen Oléria, Cantora e Compositora (http://sapatariadf.wordpress.com/), Kaline Lima, Rapper, Banda Nuvens (http://www.nuvens.net/), GOG, Rapper e Poeta (http://gograpnacional.com.br/), Casarão cultural (http://grioproducoes.blogspot.com/), Pedro Jatobá (Diretor de Ações Culturais do Instituto Intercidadania (http://www.intercidadania.org.br/), Sergio Amadeu da Silveira, sociólogo e ativista do software livre (http://samadeu.blogspot.com/), , Cabeto Rocker – Pas.colato-Músico/Produtor Cultural, Mateus Zimmermann, Jornalista, designer editorial e fotógrafo (www.mateus.jor.br), Sociedade de Usuários da Tecnologia Java – SouJava (http://www.soujava.org.br), Richard Serraria, Compositor, músico, poeta e ativista (http://vilabrasilcodigolivre.blogspot.com/), Pontão de Cultura Digital Ganesha (www.projetoganesha.org.br) e tantas outras bandas e artivistas que estão se articulando no MPB.

Com a idéia de regionalizar, saímos de Porto Alegre com o objetivo de articular debates sobre música para baixar na Feira da Música de Fortaleza (http://www.feiramusica.com.br/), que acontecerá de 19 a 22 de agosto. Além disso, iremos articular debates com esses temas na feira da música que acontecerá entre novembro e dezembro desse ano no RS, e também queremos debater o tema na feira Música Brasil no final do ano. Estamos ainda planejando um seminário nacional do MPB para debater o direito autoral, e diversos outros debates pelo Brasil. Além disso, o MPB está se somando ao movimento pró-conferência nacional da música. Iremos nos articular para participar de todas as etapas da Conferência Nacional de Comunicação e das etapas da conferência nacional de cultura.

Em Cuiabá (MT), artistas locais irão lançar o MPB durante o REMECÂNICA DA PALAVRA, que acontecerá no dia 13 de agosto. No dia 26 de agosto, em Vitória (ES), na Conferencia Regional de Comunicação, o MPB estará representado para o debate produção cultural e comunicação. Nos dias 19 e 20 de setembro, teremos debate em Florianópolis articulado pelo Pontão de cultura Ganesha. Ainda estamos planejando o 1º Festival de Música Para Baixar.

Além disso, estamos firmes em combater “qualquer atitude repressiva de controle da Internet e as ameaças contra as liberdades civis que impedem inovações. A rede é a única ferramenta disponível que realmente possibilita a democratização do acesso à comunicação e ao conhecimento, elementos indispensáveis à diversidade de pensamento”, como está em nosso manifesto.

Muito importante é poder ler no manifesto MPB: “Novos tempos necessitam de novos valores. Temas como economia solidária, flexibilização do direito autoral, software livre, cultura digital, comunicação comunitária e colaborativa são aspectos fundamentais para a criação de possibilidades de uma nova realidade a quem cria, produz e usa música”, e isso é fundamental para o movimento.

Entretanto, sentimos dificuldades de mobilizar as pessoas para os nossos debates, pois entendemos que isso é fruto de uma sociedade hegemonizada pela idéia do espetáculo, onde se cria a consciência de que os artistas são integrantes de uma classe superior com direitos especiais. Diante disso, é possível dizer que o movimento entende que a arte não deve ser tratada como se fosse semente transgênica, passível de ser propriedade de alguns, e que provoca danos ao ambiente planetário.

Estamos ainda no início do processo, e temos muito trabalho pela frente. È como o Leoni defende: “o artista de hoje tem toda a liberdade do mundo, mas, em contrapartida, muito trabalho. Os artistas não podem mais ser crianças mimadas, devem, sim, partir para cuidar dos seus negócios de fato”.

Essa idéia é fundamental e vai de encontro com algo que os artistas ainda não sabem fazer: a autogestão da suas obras. Está aí mais uma questão. É preciso que artistas façam a gestão das suas obras sem trabalhar de forma alienada, onde sempre alguém precisa resolver tudo no processo de gravação, shows e distribuição das suas músicas.

Sim, um outro mundo é possível para todas as pessoas e para quem vive da música também. Para mudar nossa realidade é preciso de protagonismo, de atitudes sem medos. Por isso, é importante agir, seja escrevendo, articulando, cantando, gritando e assinando o manifesto Música Para Baixar. Assine e mobilize outras pessoas para assinar.
Acesse aqui e assine: http://musicaparabaixar.org.br/?page_id=9

Blog Brasil Autogestionário
www.brasilautogestionario.org

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