quarta-feira, 6 de abril de 2011

E você? O que é que você tem a ver com isso?...

por Naiara Malavolta*

Adrieli Camacho de Almeida, tinha 16 anos. “A flor da idade”, onde todos os sentimentos surgem como tsunami's, varrendo tudo!



Estava apaixonada – vivia um grande amor? - mas descobriu cedo que
nesta sociedade absurda, sustentada por uma moral hipócrita, algumas
coisas são puníveis com a morte.






A família de quem estava do outro lado deste romance adolescente não
concordava com ele: mudou-se de município para impedir que o casal se
encontra-se, ameaçou Adrieli de morte, mas ela não ligou: estava
apaixonada e tinha apenas 16 anos!

No dia 13 de março de 2011 Adrieli (que tinha apenas 16 anos!) desapareceu.
O corpo só foi encontrado nesta terça-feira, dia 05 de abril de 2011,
em uma propriedade vizinha à do fazendeiro, que é pai do amor de
Adrieli (que foi assassinada e tinha apenas 16 anos!)
O Irmão do amor de Adrieli (uma menina assassinada aos 16 anos, porque
estava apaixonada!), uma criança de 13 anos de idade (ele tem apenas
13 anos de idade!) confessou o crime.
O menino disse que o irmão, um adolescente de 16 anos (um assassino,
incitado pelo pai, que também tinha apenas 16 anos!), matou Adrieli a
facadas e que os dois esconderam o corpo.
Dizem que o crime chocou a cidade de Goiânia.
A menina Adrieli (que tinha apenas 16 anos, estava amando e foi
assassinada pela família de seu amor) cometeu um crime punível com a
morte: ela amava uma outra menina (que também tem apenas 16 anos! E
que convive hoje com a realidade crua de que seus irmãos, de 13 e de
16 anos, com a orientação (e participação?) de seu pai, assassinaram e
esconderam o corpo de sua amada, Adrieli, que tinha apenas 16 anos!).
Me pergunto qual foi a influência que estes assassinos tiveram de
declarações do tipo feitas pelo Dep. Jair Bolsonaro (PP-RJ) sobre o
comportamento que os pais devem ter ao descobrirem filhos (e filhas)
homossexuais – declarações repetidas perto do dia em que o corpo de
Adrieli foi encontrado, o que deve ter causado um certo alívio ao pai
assassino.
Me pergunto quais foram as punições impostas à namorada de Adrieli,
filha e irmã dos assassinos, e se ela conseguirá suportar a pena que
está vivendo desde o dia de ontem até o final de sua vida?
Me pergunto até quando a gente vai ficar lendo matérias como estas,
sem tempo, disposição ou coragem para partir para a ação concreta de
transformar esta realidade absurda, não amanhã, mas hoje?
Quantas Adrielis serão necessárias para que a luta LGBT não seja
apenas da população LGBT?
Não são mais “01 assassinato de homossexuais a cada 03 dias no Brasil”!
Agora são quase 01 assassinato POR DIA (0,70) em todo o Brasil!
Em Goiânia, cidade que sepultará Adrieli, foram 12 no ano de 2010, mas
se fosse apenas Adrieli seria menos sério? Seria menos importante?
Seria menos comovente?
A família do amor de Adrieli “lavou a honra da família” sem questionar
o que isso causaria a menina que a amava, porque o importante aqui não
é a “preservação da família” como apregoam aos gritos os Bolsonaros da
vida. A questão aqui é dizer com quem, quando e como podemos nos
relacionar, preservando a instituição da hipocrisia que move a
sociedade moderna.
Eu não suporto mais conviver com mulheres violadas, mortas, espancadas!
Eu não suporto mais os Skin Heads de Porto Alegre!
Eu não suporto mais os espancamentos a homossexuais da Avenida Paulista!
Eu não suporto mais os estupros corretivos da áfrica (e apologia a
eles nas comunidades da internet)!
Eu não suporto mais o relato de amigas que são expulsas de seus
prédios, que são perseguidas no trabalho, que são assedias para
fecharem bares na República!
Eu sou lésbica e não suporto mais! E você? Você suporta? O que é que
mesmo você tem a ver com isso?

Ana Naiara Malavolta*
Articuladora Estadual da Liga Brasileira de Lésbicas

Um comentário:

  1. Eu não sou lésbica e NÃO suporto mais isto. Tento não perder as esperanças de que o ser humano ainda tem salvação, mas diante de tantas atrocidades... Porém, mesmo nos momentos de desesperança, não vejo outro sentido para a vida que não seja lutar (de todas as maneiras possíveis) para transformar o mundo num lugar melhor, mais justo...

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