segunda-feira, 30 de maio de 2011

Em marcha, pela liberdade - por Tica Moreno*

Liberdade

Foi esse o mote que juntou 5 mil pessoas nas ruas de São Paulo no último sábado, na Marcha da Liberdade.

As redes sociais foram super importantes pra convocar toda essa galera. Foram um instrumento. Mas o que fez as pessoas tomarem conhecimento do que ia acontecer, espalhar a informação, criar conteúdos, posts e cartazes, e ir pro MASP no sábado a tarde foi a indignação frente a uma política que tem violando nossos direitos com uma frequência que incomoda até os mais acomodados.

O direito violado, nesse caso, foi o da liberdade de expressão.

E fomos lá, muitos e muitas, expressar qual liberdade nos falta. Sexualidade livre, cultura livre, mulheres livres – foram alguns dos temas que viraram musiquinhas durante a marcha.

Pela liberdade das mulheres

Depois de uma atividade sobre a plataforma da Frente pelo fim da criminalização das mulheres e pela legalização do aborto, os panfletos feministas chegaram à Av. Paulista.

Fonte: Marcha Mundial das Mulheres

Historicamente, a luta pela legalização do aborto é levada pelas feministas, porque este é o movimento que compreende que o direito a decidir sobre o corpo e a maternidade é fundamental para que as mulheres sejam livres e autônomas. Mas faz parte dessa nossa luta convencer mais setores da sociedade a defender o direito ao aborto.

E, em uma manifestação ampla e diversa como a de sábado, nos surpreendeu positivamente a aceitação da luta pela legalização do aborto, o que foi possível medir pela adesão de homens e mulheres às músicas pró direito ao aborto, mas também pelo apoio de alguns coletivos que estavam na organização da marcha.

A solidariedade com as mulheres em defesa do direito ao aborto legal e seguro tem que crescer.

Não pode ser só das feministas a indignação frente à realidade da criminalização do aborto, que faz que o aborto inseguro seja a terceira causa de morte materna no Brasil. Somos clandestinas. Aqui, uma em cada cinco mulheres já fez aborto, mas a criminalização penaliza mais às mulheres negras e pobres, que o praticam em condições inseguras. O aborto em uma clínica segura custa em torno de 5 salários mínimos, numa sociedade em que a maioria das mulheres recebe até 2 salários mínimos.

Os debates feministas sobre o aborto partem de alguns princípios. Entre eles, a convicção de que nenhuma mulher deve ser presa, humilhada, perseguida ou maltratada por ter feito aborto.

É uma questão de saúde pública, mas é também, e fundamentalmente, uma questão relativa à autonomia das mulheres, que devem ter o direito de decidir se querem ou não ser mães em um determinado momento da vida. A maternidade não pode ser uma obrigação, nem um castigo.

Fonte: Marcha Mundial das Mulheres

Mas nós estamos longe de conquistar esse direito no Brasil.

Os ataques conservadores que se manifestaram na campanha eleitoral continuam acontecendo. Recentemente, mais clínicas foram fechadas em Fortaleza e Porto Alegre. Projetos de lei como o estatuto do nascituro – que privilegia uma vida em potencial em detrimento da vida concreta das mulheres – continuam sendo articulados no Congresso Nacional.

E, na sociedade, os valores conservadores relacionados à família e à sexualidade são reforçados e interferem na liberdade das mulheres. Ainda vemos – em discursos, novelas e políticas – as mulheres sendo consideradas como mães, e não como seres humanos completos, indivíduos dotados de razão, de desejo, de autonomia. Cidadãs. As mulheres são sujeitos da história e, enquanto não tiverem plena autonomia com relação a sua vida e a sua sexualidade, essa sociedade não vai ser livre.

Até lá, nós seguiremos em marcha.


* Tica Moreno - militante feminista da Marcha Mundial das Mulheres e da Rede Economia e Feminismo

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