terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Presença Surpreendente, por Iolanda Toshie Ide




Durante o FSMPL (Fórum Social Mundial Palestina Livre), no dia 30 de novembro, a MMM (Marcha Mundial das Mulheres), realizou a atividade “Construindo a solidariedade na ação”. Participaram ativistas da Argentina, México, Itália, Canadá, Tunísia, Palestina, África do Sul ... e, para surpresa de muitas, Ângela Yvonne Davis dos Estados Unidos. Declarou-se militante pelos direitos das mulheres e contra a discriminação social e racial nos Estados Unidos.

Nascida a 26 de janeiro de 1944, em Birmingham, Alabama, um dos estados mais racistas do sul dos Estados Unidos, lia muito desde a adolescência e participou de um intercâmbio que oferecia bolsa de estudos para negros na região norte. Estudou, pois, em Nova Iorque e, em Massachussets, com Herbert Marcuse. Na década de 60 iniciou militância em partido de esquerda, a seguir participou do movimento Black Power, aliando-se aos Panteras negras. Ângela Davis tinha vivas as imagens de jovens afrodescendetes americanos, inclusive, meninas, mortos no bombardeio da igreja de Birmingham em 1963. Desde a graduação, militou no Clube Che-Lumumba, ramo negro do partido comunista.

Foi alvo dos holofotes ao se lançar em defesa de três negros em cujo julgamento, pela parcialidade ancorada no racismo, já se previa a injusta condenação. Três jovens, inclusive o irmão de um dos réus, invadiram o recinto do júri, seqüestraram o juiz e o promotor e fugiram num veículo. O tiroteio da polícia resultou na morte de dois dos jovens, na paralisia do promotor; o juiz foi esfaqueado e faleceu. Acusada de cumplicidade, Ângela Davis ficou foragida durante dois meses, mas acabou capturada. Pela sua libertação, os Rolling Stones e John Lennon & Yoko Ono lhe dedicaram canções que ganharam o mundo. Absolvida e libertada, passou um tempo em Cuba.

Aguerrida lutadora pela abolição da pena de morte e pela extinção dos cárceres terceirizados que abrigam um milhão de negros/as, por sua militância de esquerda, foi demitida da cátedra na Universidade da Califórnia. Lutou nos tribunais e reconquistou o cargo. Viajou o mundo fazendo palestras. Ainda hoje leciona História da Consciência na mesma universidade: insiste na importância da interdisciplinaridade do feminismo acadêmico e da militância, enfatizando a necessidade dos estudos se inspirarem na metodologia das lutas.

Sobre as ações afirmativas para negros/as, declarou que o Brasil está bem à frente dos Estados Unidos, considerando que as cotas nas universidades gradativamente desembocarão em substanciais transformações.

Afirma enfaticamente que, embora os louros tenham recaído sobre Martin Luther King, foram as mulheres negras que, na década de 50, iniciaram o movimento pelos direitos de negros e negras: as anônimas trabalhadoras domésticas e lavadeiras que trabalhavam na casa dos brancos.

Iolanda Toshie Ide
Militante feminista da Marcha Mundial das Mulheres, Lins/SP


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