terça-feira, 26 de maio de 2015

Aborto não deve ser crime!


Frente Nacional Pela Legalização do Aborto é formada por diversas instituições e coletivos feministas do Brasil; sua proposta é promover a conscientização a respeito da questão do aborto e lutar pela conquista do aborto legal, seguro e gratuito para todas as mulheres.
Como o próximo dia 28 de Maio é o Dia Internacional da Luta Pela Saúde da Mulher, a Frente produziu um folheto informativo que tira dúvidas básicas e derruba vários mitos a respeito do aborto. Entre os temas abordados, o folheto menciona que o número de abortos realizados costuma diminuir quando o procedimento é legalizado no país, tendo como exemplo o Uruguai, Cuba e e outros. Fica evidente que a legalização do aborto é a única opção viável e realmente efetiva para a saúde pública das mulheres.
Leia o texto do material:
Aborto não deve ser crime
Neste dia de luta denunciamos a situação de saúde das mulheres que praticam aborto clandestino e que, ao chegarem aos hospitais com infecções e hemorragias, são maltratadas e denuncias por profissionais de saúde, tendo o sigilo violado.
Nenhuma mulher faz aborto porque gosta. Um aborto acontece porque, naquele momento da vida, é a única saída frente a uma gravidez indesejada. Todo mundo conhece uma pessoa que já precisou fazer aborto, seja parente, colega de trabalho, vizinha ou amiga. O aborto é uma realidade na vida das mulheres. No Brasil, o aborto é considerado crime (de acordo com nosso Código Penal, de 1940), exceto quando a gravidez é resultado de estupro, causa risco de vida à mulher ou quando o feto tem má-formação que não o deixa sobreviver depois que nasce (anencefalia). Por isto, muitos abortos são feitos e forma clandestina.
As mulheres que têm dinheiro tomam a decisão e fazem de forma tranquila, segura e sem risco a sua saúde. As mulheres pobres e negras, do campo e das periferias das cidades, fazem o aborto com métodos mais perigosos, o que pode afetar sua saúde e levá-las à morte. Muitas morrem à espera de atendimento de urgência nas longas filas dos serviços de saúde, onde são tratadas como criminosas. O Estado é negligente em ações efetivas que combatam essas mortes, que poderiam ser evitadas. A clandestinidade do aborto alimenta o mercado das clínicas que realizam de forma segura o procedimento mediante o pagamento de valores altos.
Propostas de regulamentação do aborto no Congresso
Há uma proposta no Senado Federal conhecida como SUG 15/2014 (Sugestão legislativa) que consiste em regulamentar o atendimento no SUS da interrupção voluntária da gravidez, dentro das 12 primeiras semanas de gestação. Isto é, as mulheres terem o direito a fazer aborto neste período da gravidez, se assim decidirem ou necessitarem.
Neste 28 de Maio, esta proposta está sendo debatida no Congresso Nacional, mas há muitos/as deputados/as e senadores/as conservadores/as lutando para que as mulheres não acessem esse direito. Acreditam que as mulheres são seres inferiores e irresponsáveis e que são incapazes de tomar decisões.
As mulheres, sim, têm o direito de decidir sobre seu corpo e sua via. Por isto é importante quebrar o silêncio sobre o tema do aborto, discutir nas ruas, nas universidades, no trabalho e se organizar em grupos de mulheres para defender nossos direitos. Este Congresso machista não nos representa!
As mulheres têm o direito de decidir se querem ou não ser mães. A maternidade não deve ser uma obrigação nem um castigo. Portanto, a legalização o aborto contribui para que as mulheres tenham autonomia para tomar uma decisão cujo significado elas conhecem mais do que ninguém.
É importante saber:
1) A legalização aumenta o número de abortos? Não.
Nos países em que a legalização veio acompanhada de educação sexual e acesso aos serviços de saúde e aos métodos anticoncepcionais, o número e abortos diminuiu.
2) O aborto é considerado crime em todo o mundo? Não.
Em mais de um terço dos países do mundo, especialmente nos chamados países desenvolvidos, o aborto é legalizado Na América Latina, o aborto é permitido no Uruguai, Cuba, na cidade do México e na Guiana Francesa.
3) É verdade que a maioria das mulheres que fazem aborto são jovens e solteiras?
Na realidade, mulheres de todas as idades, casas e solteiras, fazem aborto. Pesquisa realizada pela UnB (2007) demonstrou que a maioria das que abortam são casadas, mães, trabalham fora, têm, em média, de 20 a 29 anos, são católicas, com alguma escolaridade e decidem pelo aborto com o parceiro.
4) Com a legalização todas as mulheres vão fazer aborto? Não.
Fazer aborto pode ser uma decisão difícil para muitas mulheres, sem contar que, mesmo realizado de forma segura, o aborto é um procedimento médico que envolve consulta ginecológica, entrevistas com psicólogos/as, assistentes sociais. Além disso, o direito ao aborto não obriga ninguém a fazê-lo, cada uma decide a partir de seus valores e sua consciência. As que decidem pelo aborto devem ser respeitadas em sua decisão, sem correr risco de saúde, morte ou prisão.
5) É verdade que, se todas as mulheres tivessem acesso a métodos contraceptivos, não precisariam da legalização do aborto?
Na realidade, a gravidez indesejada sempre existirá, porque os contraceptivos falham, seja pelo uso inadequado ou por falha do próprio método, seja porque, muitas vezes, as mulheres são obrigadas a ter relações sexuais com maridos ou namorados. Muitas vezes, os parceiros se negam a usar preservativos. Algumas religiões defendem o não uso de anticoncepcionais e preservativos, o que coloca as mulheres em risco de engravidar e de pegar doenças sexualmente transmissíveis, e esta é uma orientação que pode ser acatada, ou não, por quem professora fé e segue esses preceitos. Não deve ser imposto a todas as mulheres brasileiras, sobretudo às que não sguem religião, respeitando assim o princípio da laicidade do Estado brasileiro, que separa as decisões políticas da influências dos dogmas religiosos. E o serviço de saúde tem o dever de atender igualmente todas as mulheres com respeito, dignidade e justiça. Nenhum/a funcionário/a da rede pública de saúde tem o direito de impor seus valores e preceitos morais e religiosos durante o atendimento prestado no serviço.
6) Os grupos de mulheres que lutam pela legalização do aborto respeitam a vida? Sim!
- As mulheres são seres humanos com direito a tomar decisões sobre sua vida com autonomia;
- A criminalização não evita o aborto no Brasil. Aqui, são realizados cerca de 700 mil a um milhão de abortos por ano. Muitas mulheres vão parar no hospital com complicações para a saúde. Segundo o Ministério da Saúde, a prática do aborto inseguro é a quarta causa da morte materna;
- O movimento de mulheres entende que é inaceitável a morte de mulheres por aborto. O Estado tem que proporcionar todas as condições para que a mulher que decide pelo aborto possa fazê-lo no serviço público com segurança;
- Queremos o aborto legalizado no Brasil;
- Queremos o fim da criminalização e dos maus-tratos a mulheres em situação de abortamento nos hospitais;
- Exigimos que todos os hospitais no Brasil tenham equipes capacitadas para atender de forma humanizada as mulheres em situação de abortamento.”

baixar o panfleto:

domingo, 24 de maio de 2015

Pré inscrição para a 4ª Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres RS




Quando? Onde? Quem?

Data: 26, 27 e 28 de setembro de 2015

Local: Santana do Livramento-RS (493 km de Porto Alegre; 941km de Florianópolis-SC; 758km Buenos Aires; 510km Montevideo)

Público: •1000 (mil) Mulheres

Metas

 •500 mulheres do RS; 
•500 Brasil/SC-PR – Argentina – Uruguai




quinta-feira, 21 de maio de 2015

Audiência Pública Mulheres na Politica e Procuradoria da Mulher na Assembléia Legislativa RS


Este é o convite para a audiência pública que acontecerá na próxima segunda-feira, 25/05/2015, às 9h30min, no Teatro Dante Barone, para Apresentar o trabalho e o funcionamento da Procuradoria da Mulher do Senado Federal, bem como debater a participação política das mulheres, que contará com a presença da senadora Vanessa Grazziotin. Informamos que os convidados serão recepcionados às 8h30, no Salão Júlio de Castilhos, para um café da manhã. 

Logo após, ocorrerá o lançamento da Campanha "Mais Mulheres na Política" da ONU Mulheres, Senado Federal e Câmara Federal, com a presença de várias lideranças, conforme convite em anexo.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

documentário Arpilleras: bordando a resistência

Companheiras, 

as companheiras do MAB estão desenvolvendo um documenário a partir da técnica das arpilleiras e do trabalho de auto organização das mulheres atingidas por barragens. 

Foi feito um belo processo junto as mulheres nos estados e agora elas estão em uma campanha de doação coletiva pelo Catarse com a finalidade de arrecadar fundos para podermos produzir o documentário. 
Vamos contribuir com a divulgação da campanha de financiamento coletivo e a auto-organização das mulheres atingidas por barragens.

Abaixo segue o release e aqui o link para doação: https://www.catarse.me/pt/arpilleras







Bordar, ato transgressor?
Documentário em fase de financiamento coletivo vai retratar violações cometidas contra as mulheres na construção de barragens no Brasil, 
através de uma técnica de bordado utilizada como resistência à ditadura militar chilena.






Desde o início de 2013, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) vem resgatando uma antiga técnica de bordado para elaborar um relato das violações de direitos humanos praticadas em áreas atingidas por grandes projetos de barragens.
A técnica das arpilleras surgiu em Isla Negra, no Chile, mas ganhou uma dimensão política no período da ditadura militar no país (1973 a 1990). Mulheres do subúrbio de Santiago se apropriaram dessa ferramenta para desenvolver uma narrativa contra a repressão comandada por Augusto Pinochet.
O MAB partiu desta experiência para realizar mais de 100 oficinas em dez estados brasileiros, com aproximadamente 900 mulheres atingidas por barragens. Com o bordado e o resgate do exemplo das chilenas, grupos de mulheres produziram um relato sobre as diversas formas de violência sofridas. No Brasil, segundo o último levantamento realizado pela Comissão Mundial de Barragens, feito em 2000, mais de um milhão de pessoas já foram afetadas por barragens. Destas, 70% não foram contempladas com nenhuma forma de reparação. Especialmente às mulheres, as violações são ainda maiores.
Com o inchaço populacional repentino nas regiões que recebem as obras, há uma comprovada ampliação nos casos de assédio sexual, tráfico de mulheres, prostituição e estupro. Com o início da construção das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, por exemplo, Porto Velho (RO) registrou um aumento de 208% nos casos de estupros em apenas dois anos, segundo o relatório da Plataforma Brasileira de Direitos Humanos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais (DHESCA).


O documentário Arpilleras: bordando a resistência, aberto para financiamento coletivo no Catarse, busca resgatar essa experiência do bordado contra a opressão de gênero nas áreas atingidas por barragens. A ideia do filme é costurar uma arpillera coletiva de norte a sul, na qual uma mulher de cada região do Brasil narre o impacto das barragens em suas vidas.

Você pode acessar o projeto e contribuir no link abaixo:

Este é o site oficial do projeto:

Nossa página no facebook:

Teaser oficial:

Sobre o MAB:

Contatos:
(11) 3392-2660

*Em anexo, seguem alguns outros materiais de divulgação.
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Charge do cartunista Vitor Teixeira:



Vídeo- Apoio do Memorial da Resistência de São Paulo:

Teaser alternativo:


Contatos:

(11) 3392-2660

domingo, 10 de maio de 2015

O mito da mulher maternal, artigo da Revista Fórum

Por Jarid Arraes


Nossa cultura ainda insiste em clichês e mentalidades sexistas que ditam a maternidade como algo inato a todas as mulheres. As consequências nocivas dessa lógica são muitas: reduzir todas as mulheres ao papel de mãe faz com que as garotas absorvam, desde cedo, comportamentos limitados e submissos, aguardando o suposto inevitável dia em que se tornarão mães. Mas o que é, afinal, um comportamento materno?
O mito da mulher maternal
Existem muitos tipos de mães na nossa sociedade. Há aquelas que adotam métodos educacionais libertários, outras que preferem criar seus filhos em modelos conservadores; há mães que não exercem uma autoridade rígida sobre as crianças ou ainda que são controladoras e até mesmo rudes com seus filhos. O comportamento dessas mulheres varia de acordo com a personalidade e subjetividade de cada uma delas; é por isso que existem tantas formas de ser mãe, variando entre o afeto e a compreensão a até mesmo atitudes violentas e criminosas.
No entanto, a personalidade “maternal” que a sociedade atribui às mulheres se limita aos atos de cuidado e servidão, frequentemente associados a um padrão submisso de comportamento. Não por acaso, esse conceito de maternidade está intimamente relacionado à ideia naturalizada de que mulheres devem ser brandas com os homens, mesmo em situações em que eles são grosseiros ou abusivos. Segundo esses valores machistas, a mulher deve ser paciente, didática e acolhedora. Mulheres que são assertivas, que se posicionam de maneira contundente e que não fazem nenhuma questão de tratar o machismo com panos quentes, acabam sendo hostilizadas, expostas como descontroladas e “histéricas”. E muita gente nem mesmo percebe o sistema misógino escondido por trás desses padrões.
A maternidade não é um dom, tampouco um dom atribuído às mulheres de maneira universal. É preciso entender que muitas mulheres não querem ser mães e que, muitas vezes, suas personalidades e aspirações de vida não estão voltadas para um suposto “instinto materno”. Ser mãe é um processo árduo de aprendizagem. Não existem mães perfeitas e nenhuma mulher nasce sabendo como ser mãe.
Além disso, a própria ideia de postura maternal deve ser objeto de reflexão, sobretudo quando desbanca para mulheres que não são mães ou em contextos onde elas não estão lidando com seus filhos. Nenhuma mulher tem a obrigação de agir como mãe dos seus parceiros, colegas de trabalho ou de debate. Nenhuma mulher é obrigada a tratar homens como filhos, agindo de maneira protetora, infantilizada ou incondicionalmente paciente. Essa lógica machista precisa ser destruída.
É fato que ainda temos muito o que debater e compreender a respeito da maternidade e do papel de cada mãe. Ainda não aprendemos a respeitar as nossas próprias mães e menos ainda as mães dos outros. Ainda são impostas cargas absurdas para que as mães de nossa sociedade carreguem e ainda exigimos delas o impossível. Ainda assim, devemos trabalhar para que as mulheres, sejam elas mães ou não, sejam vistas como indivíduos únicos, singulares e completos, sem a necessidade da maternidade e sem a exigência de um padrão maternal em seus comportamentos.

Mais sobre maternidade:
As mães criam filhos machistas?
Se amamos tanto as mães, por que as tratamos tão mal?
Contribua com o Questão de Gênero:
http://jaridarraes.com/contribua/

Foto de capa: Reprodução / Facebook

quinta-feira, 7 de maio de 2015

POR MIM, POR ROSILENE, POR TODAS: AS VÁRIAS FACES DE UM RELACIONAMENTO ABUSIVO!

Mudar o Sistema Político para mudar a vida das mulheres!

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* por Daniele Azevedo
Hoje, estou em um daqueles dias em que vem um turbilhão de emoções, lembranças e dor! Depois de 10 anos, e muita resistência, percebo a necessidade de abrir alguns fatos do passado.
No ano de 2005, quando eu tinha 17 anos, conheci uma pessoa que viria se tornar o meu namorado – nossas famílias se conheciam há anos -, ele tinha 21 anos. Após meses de ligações constantes e de alguns encontros começamos a namorar. Ele era o padrão de homem aceitável pela sociedade. Principalmente, ele era aceitável à minha família. Como quase todo começo de relacionamento, tudo parecia normal, até que, com o tempo, ele começou a mostrar-se uma pessoa desequilibrada emocionalmente e, muito pior, agressivo. Passou a ser comum, enquanto falávamos ao telefone, ouvir o barulho de pratos quebrando; Nosso relacionamento começou a mudar, e o que parecia ser solucionável, tornou-se uma cadeia de violências. Lembro-me das nossas saídas e de, de repente, começarmos discussões. A cada briga, por qualquer motivo que fosse, era um acesso de raiva contra mim.
O ciúme e a tentativa de controlar minha vida eram constantes. Desde sair sozinha a estar ao lado de qualquer homem, ainda que fosse um desconhecido, eram motivos para novas discussões. Certa vez, depois de mais uma briga, em pleno Shopping, recebi duas tapas na cara – até hoje me lembro de cada detalhe e das pessoas olhando sem fazerem nada -, ainda assim, ele simulou tentar se jogar do andar que estávamos (era mais uma tentativa de me culpar pelo que ele havia feito). Eu não tinha qualquer reação, só vergonha e raiva por tudo aquilo tá acontecendo. Eu estava no meu 2º relacionamento, nova e sem muita experiência com namoros, insistia em acreditar que as coisas poderiam mudar (engano meu!).
Como a tendência de todo relacionamento abusivo é piorar, com este não foi diferente. Em mais uma saída, na volta pra casa, próxima à estação de transbordo, em plena passarela, ele me segurava pelo braço, gritava comigo e dava a entender que qualquer coisa que eu fizesse seria um motivo para jogar-me da passarela – Até hoje eu não compreendo como consegui sair daquela situação (eu só tinha 17 anos). Pareceu que toda força que eu tinha naquele momento, veio de tudo aquilo que restava a mim: suportar – Meu braço marcado e o pior era o meu equilíbrio emocional, todo aquele abuso minava aos poucos com a minha autoestima. Cada vez mais insegura e sem contar com alguém, tornava-me uma pessoa atormentada pelo medo de terminar o relacionamento. Eu não contava pra ninguém, nem amigas (os) nem família, ninguém sabia. Eu imaginava o que todas as pessoas iriam pensar sobre mim (culpava a mim por tudo) e ainda tinha a preocupação do que poderiam fazer a ele – hoje, parece tão cruel ter me culpado tanto. Ainda aconteceria uma ultima coisa que, me faria repensar aquela relação abusiva: a tentativa de estupro. Como ele morava só, era comum estarmos no apartamento dele.
Em uma tarde, quando havia ido lá, depois de mais uma discussão, ele me segurava forte pelos braços e pescoço, tentava tirar minha roupa, e eu reagia, mas sem qualquer força e capacidade pra tira-lo de cima de mim. Depois que conseguiu tirar minha calça, e eu ainda gritando e tentando empurrá-lo, ele desistiu. Era uma mistura de alívio e de ÓDIO. A atitude dele foi me pedir desculpas, como se fosse mais uma a ser perdoada. Eu não parava de chorar! Fui pra casa completamente desnorteada, sem entender como aquilo aconteceu. Cada vez mais “uma luz acendia” mostrando-me que a qualquer momento eu poderia ser mais uma estatística. Eu decidi (eu precisava): não dava mais! Após um ano de namoro, tive coragem pra terminar o relacionamento – um relacionamento que deixa marcas até hoje!
Depois de quase 10 anos, não possuo qualquer contato com “meu” agressor e, na época, não denunciei; Nesse momento, ao resolver contar cada detalhe, penso que, não posso fugir do que vivi e, que, na verdade, não é só meu cada detalhe, são de outras mulheres, são sobre outros abusos, sobre outros estupros e agressões. Esse texto fala sobre mim, mas também diz sobre Rosilene Rios, estudante da UNIVASF, assassinada dentro da Universidade, na quinta-feira (06/05) por seu ex-marido com 40 facadas, pois não aceitava o fim da relação. Rosilene é mais uma estatística a ser lembrada pelos jornais que, diariamente, anunciam todo crime praticado contra mulheres.
Ninguém pode me culpar, assim como não pode à Rosilene.
Este caso e tantos outros me motivaram a escrever esse relato-denúncia como forma de ajudar outras mulheres a perceberem-se em relacionamentos, também, abusivos. Assim, como a compreenderem que ninguém luta sozinha, que só unidas e organizadas poderemos mudar as nossas realidades. A violência contra nós, mulheres, é estruturada por um Sistema, Patriarcal-Capitalista-Racista, que, cotidianamente, através do controle dos nossos corpos, da naturalização da violência e da divisão racial e sexual do trabalho, e etc., define que a cada 5 minutos, no Brasil, uma mulher seja agredida, e, que, a cada duas horas uma mulher seja assassinada.
A violência não pode continuar invisível, silenciosa, apenas servindo para dados estatísticos. A violência se combate com mulheres organizadas em busca de um projeto de sociedade!
A luta é o que muda!
O meu corpo, antes agredido; hoje em luta, resistindo. Por mim, por Rosilene, por todas!
Não sou mulher, sou mulheres!
Moça, faz da tua dor, tua luta!
Violência contra a mulher, não é o mundo que a gente quer!
Mudar o Sistema Político, para Mudar a Vida das Mulheres: Constituinte Já!
* Daniele Azevedo é militante da Marcha Mundial das Mulheres – Núcleo Negra Zeferina