quarta-feira, 30 de agosto de 2017

ALERTA, ALERTA





1ª Jornada de Formação Feminista - 3º módulo


Módulo 3
12 de setembro
Das 18h30 às 22h

Mediadora:  Regina Brunet – Kizomba, Diretora de Mulheres da UEE Livre, DCE da UFRGS e da Marcha Mundial das Mulheres

1) O Feminismo e a resistência das mulheres - campos do feminismo, os movimentos sociais e populares.Facilitadora: Aline Cunha – Feminista, Professora da Faculdade de Educação da UFRGS

2) O feminismo como um projeto político de fortalecimento das mulheres na luta contra os retrocessos - as reformas e o avanço do conservadorismo.
Facilitadora: Antônia Mara Vieira Loguercio – juíza do trabalho aposentada e integrante do Opinio Iuris Instituto de Pesquisas Jurídicas.

3) Ações de resistência para a autonomia plena das mulheres: Social e politica, econômica e autonomia do próprio corpo 
Facilitadora: Maria Fernanda Gerunto Salaberry – designer, feminista, participou da organização da Marcha das Vadias e do Coletivo de Mulheres da UFRGS

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Três casamentos, um amor e aquela sensação …

* por Naiara Malavolta Saupe

Havia aquela sensação de embrulho no estômago, como se algo estivesse preso, agitado, querendo subir e pular boca afora. O coração acelerado e o sangue pulsando forte pelas veias parecia ter pressa de chegar a algum lugar.
Poucas coisas lhe causavam isso, a maioria em situações de enorme tensão, pura excitação ou de muito constrangimento, mas nada como nesta noite. Nada era comparável à sensação que vivia nesta noite.
A agonia fazia com que se lembrasse do dia em que chegou a Bagé, para assumir o cargo no concurso do TRT. Muito constrangimento foi o que sentiu à época.
O ano era 1991, acabara de fazer 24 anos. Desde os 18 estavam juntas, moravam juntas, dormiam juntas e toda a família sabia, os amigos sabiam, não escondiam mais de ninguém, afinal já fazia quase seis anos.
Mas aquela era uma situação nova, um emprego novo, uma cidade nova. Acabara de passar no concurso, não conhecia ninguém, chegando no interior e com muita expectativa para o futuro. Ao entrar na Junta foi recebida pela Diretora, Isolda, e apresentada para os colegas. Todas pessoas gentis e cheias de curiosidade. Uma chuva de perguntas caía sobre ela e não demorou para que ouvisse:
- Solteira, casada ou tico-tico no fubá? - questionou Adalberto.
Pega de surpresa, num ato de autodefesa, respondeu, instintivamente, quase sem pensar:
- Casad…
Antes que acabasse de pronunciar a palavra, já estava arrependida e xingando-se mentalmente: “idiota, o que é que eu fui fazer?”!
A coisa dentro do estômago ficava mais agitada, subia pelo esôfago, alojando-se na garganta. O sangue corria forte e parecia instantaneamente drenado todo para as bochechas, quando a segunda pergunta foi arremessada contra ela por uma colega de simpatia rechonchuda:
- Já? Tão cedo! Qual o nome DELE?
ELE (idiota!). Qual o nome DELE, pensava? O que é que eu vou dizer?
- Marcelo, o nome dele é Marcelo! - respondeu com as têmporas latejantes e com muito, muito constrangimento.
Ria mentalmente ao lembrar da cena e de toda a situação que dela derivou: culpa, medo, negação, 16 meses de mentiras cada vez mais elaboradas todas as vezes que falava ao telefone com a Mary e a chamava pelo nome de Marcelo. Adoeci por conta daquilo, pensou com alguma melancolia. Enquanto isso a Mary se divertia com a situação e dizia para esquecer, porque foi necessário!
Mas ela adoecera e só se deu conta disso muitos anos depois, quando já elaborava mais sobre estes assuntos.
Existiram, depois desta, inúmeras outras situações em que “a coisa” cresceu no estômago, geralmente nas primeiras vezes. Sim, primeiras vezes, porque em 30 anos de relacionamento lésbico existiram muitas primeiras vezes: a primeira vez que foram apresentadas às dezenas de parentes e suas expressões de curiosidade, estranheza ou surpresa; a primeira festa que foram juntas no trabalho de uma ou de outra; o primeiro beijo em público; o primeiro passeio de mãos dadas na rua; as compras que fizeram juntas e os vendedores perguntando se eram irmãs, ou amigas e ouvindo espantados: “Não, ela é minha companheira”; a primeira vez que, em um hotel, exigiram cama de casal, ao invés de simplesmente juntar as camas de solteiro do quarto em que foram alojadas.
Nossa! Foram muitas primeiras vezes! E em todas aquela sensação de embrulho no estômago estivera presente. E sempre, nestes casos, causada por enorme tensão.
Não deixava de ser irônico, hoje estavam vivendo uma outra primeira vez! Só que desta vez com sabor de reprise. “Estamos casando pela terceira vez”, concluiu mentalmente, entre surpresa e excitação!
E era verdade! A primeira vez que casaram foi em 1985, quando resolveram morar juntas. Ela com 18 e Mary com 33 anos. Compraram móveis devagar, na medida em que juntavam dinheiro. Mudaram-se quase que simplesmente com as roupas do corpo, porque o importante era que estivessem juntas. Convidaram alguns poucos amigos para aquele primeiro casamento, quando inauguraram a nova moradia.
A segunda vez que se casaram foi 19 anos depois, em 2004, quando, amparadas por uma decisão do TJ-RS, assinaram a Declaração de União Estável. Fizeram sozinhas, meio na correria, num impulso de não deixar a oportunidade passar. Ela estava com 37 e Mary com 52 anos.
Esta era a terceira vez que casariam, no dia exato em que completavam 30 anos de união. Para esta noite tudo foi planejado com meses de antecedência: o salão estava cheio, fizeram os proclamas e contrataram a juíza, fotógrafa, comidas, garçons. Quatro casais de padrinhos, bolo de casamento, champanhe e bem-casados para o final …. e aquela sensação de embrulho no estômago, subindo pelo esôfago e trancando na garganta, igual a todas as outras vezes. Mas não, nada era comparável a sensação daquela noite!
Despertou do devaneio quando em meio à música a juíza perguntou:
- Ana Naiara, aceita Mary Saupe como sua legítima esposa?
- Sim, aceito!
E a “coisa” saltou para fora da garganta junto com o SIM, desobstruindo o estômago e aliviando o coração. Era um momento raro, de pura excitação!

* Naiara Malavolta Saupe é militante lésbica feminista da Marcha Mundial das Mulheres RS

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Sobre assumir quem você é e mudar o mundo

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Foto: Elaine Campos
* por Vanessa Gil
A primeira coisa que você deve saber ao ler esse texto é que ele é um relato pessoal de como esse processo aconteceu comigo. Cada uma de nós vivencia de forma diversa. O fato é que sempre fui lésbica. Isso não impediu que me relacionasse com homens por muito tempo. Hoje, passados alguns anos, vejo isso como a ação da heteronormatividade na minha vida. No fundo eu sabia, mas crescemos numa sociedade onde ser hétero é a regra. Eu tentei segui-las. Quando nós dizemos bissexuais a coisa flui. A gente ainda esta disponível para os homens. Está disponível é bem dentro do que a pornografia vende, duas mulheres, o sonho da sexualidade masculina. Mas quando você rompe com isso, acorda e diz, sou lésbica, a coisa muda de figura. Você está informando o mundo que seu corpo, sua sexualidade não está mais disponível para o desejo masculino.
Levei muitos anos para me assumir lésbica. Mas sou uma privilegiada. Minha família disse: “a gente já sabia, seja feliz!”. Nunca trataram minhas namoradas com qualquer diferença entre homens que namorei ou as namoradas do meu irmão, do meu filho. Essa não é a realidade da maioria. Mas várias de nós podem se assumir e seguem no medo da rejeição. Amiga, quem te ama de verdade não se importa com quem você transa. Isso vale pra todas as pessoas com as quais você se relaciona. Para mim, e aqui faço um relato bem pessoal, foi libertador. Foi como tirar um peso gigante das costas. Cabe ressaltar que tudo isso foi possível porque o movimento feminista me mostrou que não estava só, que não era a única e que o pessoal é politico. Obrigada as que vieram antes de mim!
Tenho orgulho de ser lésbica. Faço questão de que todo mundo saiba. Passei muitos anos sem contar para ninguém, escondi namoros de anos. Hoje, sempre que entro em sala de aula digo que sou lésbica. O motivo é bem simples. Passei boa parte da vida achando que lésbicas e gays tinham uma vida promiscua. E mais um monte de ignorâncias. Não havia lésbicas entre minhas professoras, minhas médicas, entre as vizinhas. Óbvio que elas estavam lá, mas não contavam para ninguém. E eu achava que era só eu. Depois conheci outras lésbicas, mas todas também vivendo no armário. Falo de mim onde posso para que outras meninas saibam que nós existimos, vamos para a universidade, nos apaixonamos, temos filhos, estudamos.
A primeira vez que contei na escola onde lecionava foi visível o alívio na cara dos alunos gays e alunas lésbicas. As piadas lesbofóbicas e homofóbicas diminuíram, afinal, a autoridade em sala de aula era lésbica. A sala das professoras passou a ter muito mais cuidado com o que dizia. No ano seguinte vários casais gays e lésbicas surgiram no pátio. Ou seja, quando você se assume, quando nós assumimos, mudamos o mundo. E ajudamos as outras que virão depois de nós. Nem todas podemos se assumir com tanta tranquilidade, mas se você puder, faça. O mundo e você ficarão mais livres.
*Vanessa Gil é socióloga e militante da Marcha Mundial das Mulheres do Rio Grande do Sul.

sábado, 26 de agosto de 2017

Jornada Continental pela Democracia e contra o Neoliberalismo




Vídeo: ato resistência dos povos contra o neoliberalismo, o poder corporativo e por democracia realizado em 22 de agosto em São Paulo como parte da mobilização brasileira ao encontro em Montevidéu da #jornadacontinental entre os dias 16 e 18 Novembro de 2017.

ASSISTA O VIDEO: AQUI

domingo, 20 de agosto de 2017

Nota da Marcha Mundial das Mulheres em solidariedade ao povo venezuelano

Nota da Marcha Mundial das Mulheres em solidariedade ao povo venezuelano
A Marcha Mundial das Mulheres manifesta seu apoio e solidariedade ao povo da Venezuela, em especial às mulheres e as organizações populares de mulheres e do movimento social.
A crise na Venezuela não é nova, ela é parte de uma disputa acirrada desde a primeira eleição de Hugo Chavez, em 1998. Hugo Chavez se destacou por uma política anti-imperialista e voltada para a resolução dos problemas básicos da população como a fome, a falta de acesso a moradia e a renda. Sua política foi a mais incisiva contra o imperialismo, o que ao mesmo tempo em que despertou ódio, fortaleceu as lutas anti-imperialistas dos movimentos sociais na região e ganhou relevância com a eleição de presidentes na América Latina que não se alinharam aos Estados Unidos.
A ascensão de governantes como Lula no Brasil, Kirchner na Argentina, Evo na Bolívia, Lugo no Paraguai, Tabaré e Mujica no Uruguai, criou um terreno mais fértil para barrar as políticas neoliberais e tratados como a ALCA, que seria a subordinação total da América Latina aos EUA. O diálogo e integração na América Latina se intensificaram, em processos como a Unasul, a CELAC, a reorientação e fortalecimento do Mercosul, enfim, uma nova geopolítica se desenhou na América Latina.
Porém, 500 anos de imperialismo e colonialismo, machista e racista não são derrotados facilmente. Os povos latino-americanos viveram seguidos golpes como em Honduras, Paraguai, no Brasil. Mesmo Venezuela houve tentativas de golpe que foram sufocadas pelo povo.Os golpes na América Latina tiveram em comum a contribuição estadunidense, a articulação da burguesia, empresas e parlamentares corruptos, meios de comunicação e, no caso do Brasil, o componente da misoginia e o destacado envolvimento do setor judiciário. Quem comanda e provoca a crise na Venezuela são os mesmos atores, articulados com uma mídia golpista com aliados internacionais, por exemplo, a Rede Globo todos os dias mantém os noticiários inundados de notícias contra Maduro.
Em 2014, os movimentos sociais brasileiros organizaram um plebiscito nacional por uma constituinte exclusiva e soberana para realizar uma reforma política no país. Foi um processo de quase um ano de mobilização e um plebiscito popular com quase 8 milhões de votos. A rede globo e os meios golpistas não deram uma única noticia. Quando a oposição de Nicolas Maduro, montou um plebiscito em julho 2017 contra a assembleia constituinte, esse mesmo canal de televisão deu reportagens ao vivo durante todo o dia. Estas mídias golpistas se articulam em todo o continente para insuflar o ódio e definir as relações de poder na sociedade a favor das elites e das empresas transnacionais.
O que está em jogo na Venezuela é um processo de golpe para recuperar o comando americano da burguesia e das grandes transnacionais sobre as riquezas daquele país. Não tem nada a ver com a fome do povo ou com a democracia. A Venezuela tem as maiores reservas de petróleo do mundo, além da água e da diversidade ambiental, e é isto que estes setores querem recuperar.
Os golpes são contra o povo, contra as mulheres e a população negra, como está ocorrendo no Brasil, que teve a democracia rompida, todos os direitos das mulheres e da classe trabalhadora estão sendo destruídos, as terras usurpadas dos povos indígenas, quilombolas e da população camponesa, além de que os serviços, empresas publicas e nossa biodiversidade estão sendo entregue para as empresas transnacionais. O Brasil, que já era um dos países mais violentos da América Latina assiste esta violência contra as mulheres e a população negra sendo acirrada. A criminalização dos movimentos sociais e os assassinatos de lideranças do campo se intensificam. Os golpes na América Latina são para recuperar o projeto neoliberal e a usurpação de nossos bens comuns, assim como para reafirmar a subordinação aos EUA.
Para nós, mulheres e povos, resta a luta e resistência. Por isso a Marcha Mundial das Mulheres denuncia esta tentativa de golpe na Venezuela que acirra a violência contra a população mais pobre, negra e jovem.
A Venezuela é soberana para junto a seu povo e a classe trabalhadora buscar saída de paz com participação e decisão popular.
Toda nossa solidariedade ao povo da Venezuela! Trump fascista e todos os golpistas: tirem as mãos da Venezuela!